quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Vista

De lá dava para ver o rio.
Ele estava bonito, á noite. Pena que nas bordas transbordavam garrafas de plástico, sujeira e até um sofá de espuma, meio submerso, com as molas aparecendo.
Sem falar no cheiro.
Mas o jeito em que o finzinho de sol batia nele era bonito. Apesar de sujo, refletia perfeitamente o céu, agora começando a ficar azul escuro, e no horizonte atrás dos prédios mais altos se ver o vestígio de sol, e daquela parte se forma um degrade do rosa.
Olhei além do rio. A cidade. Infinita, ultrapassava o horizonte, com seus prédios altos, mas que desta distancia, pareciam pequenos. Em alguma casas já se via a luz acesa, e essas janelas brilhavam como pequenos vaga-lumes no meio dos cinza escuros dos edifícios.
Eu gostava de lá.
Olhei para o barranco em minha frente. Dava direto para o rio. Atrás de mim, a parede de uma casa em minha rua, rua que acabava naquele barranco. Olhei para cima. Tinha um pequenino lustre, já com a luz acesa. Ao seu redor, zanzavam mosquitinhos atraídos pela luz.
Definitivamente, eu gostava de lá.
Olhei novamente para a cidade. No fundo tinha uma torre alta, praticamente invisível, se não fosse a pequena luz vermelha que piscava freneticamente no fundo.
Olhei melhor, haviam várias outras torres, algumas até mais altas que os prédios mais altos daquela cidade enorme.
Pensei nas janelinhas-vaga-lumes. Atrás de cada uma daquelas janelas tinha uma pessoa, talvez várias. Talvez uma família. Talvez estivessem dando uma festa, ou vendo um filme de terror. Podem estar lendo, vendo t.v., ou conversando.
Podia ser apenas uma pessoa, brincando com seu gato. Ou terminando um trabalho para a faculdade. Ou falando no telefone com o amigo.
Podia ser um casal, brigando. Um casal jovem, namorando, ou um casal de velhinhos tricotando.
Ou uma garota. Sozinha. Morava longe de casa, havia se mudado para a cidade grande pensando em melhorar a vida. Ela podia ter brigado com o garoto que gostava, e podia estar sozinha chorando em seu quarto. Suas lágrimas podiam estar fervendo pelo seu rosto, correndo pelas bochechas. Ela estava sozinha, completamente só.
Olhei de novo para o rio. Agora refletia apenas o azul escuro do céu, e milhares de pontinhos, que eram as estrelas. Todas as janelas já tinham a luz acesa, e a cidade brilhava.
Dei um suspiro. Me apoiem em uma mão, e depois na parede, e fiquei de pé.
Dei mais uma olhada para o rio, depois me virei e fui andando pela ruela escura.

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