Querido Diário,
Gostaria de lhe apresentar Speedy Gonzãlez, meu novo chihuahua. Ele é absolutamente adorável, especialmente com sua coleira rosa.
Ganhei-o de minha cunhada. Fiquei em dúvida do porque ela o fez, pois ontem não foi uma data importante. Me pergunto se foi para compensar o quanto mamãe ficou brava por assistir, através de uma daquelas câmeras infernais, eu me tocando na despensa. Eu não entendo bem o que aconteceu, apenas me senti direcionada àquilo, depois de assistir um dos vídeos do quarto do meu irmão. As pessoas se enlaçavam e gemiam de modo estranho nele, e fiquei hipnotizada. Senti esse calor estranho, e comichões. Foi bom. Apenas não entendo o porque de tal reação da parte da minha mãe. Me lembro de antes de serem instaladas as paredes com revestimento acústico, de ouvir os mesmos gemidos vindos do quarto dela.
Malditas câmeras. Deus, como é insuportável ficar presa dentro desta casa. Entendi como me sinto quando Speedy chegou dentro de sua jaula para cães. Reconheci o olhar triste. O mesmo que vejo no espelho...
Querido Diário, mal posso escrever entre as lágrimas. Não sei se de terror ou tristeza. Me distraí. Tive um de meus "momentos de ingenuidade", como costuma dizer vovó. Deixei Speedy escapar, e o segui, chegando tarde demais. Foi o horror. Não consegui me mover, e assisti em câmera lenta eles rasgarem, como faço com papel, Speedy. Via apenas sangue em meio aos dentes daquele monstro, e pedaços de sua pele, marrons, misturados ao vermelho. Entrei em choque, e depois de um tempo, desabei em lágrimas. Vovó me disse para não ser inocente. E que são justamente essas coisas que quer evitar. E então algo aconteceu, diário. Ela apareceu. Lembra dela? Sim, aquela voz. Ela fica falando, e não se conteu ao dizer, através de mim: 'Não seria tão inocente se visse algo do mundo que não fosse pânico, que é o que habita essa casa.'
Querido Diário, mal posso escrever entre as lágrimas. Não sei se de terror ou tristeza. Me distraí. Tive um de meus "momentos de ingenuidade", como costuma dizer vovó. Deixei Speedy escapar, e o segui, chegando tarde demais. Foi o horror. Não consegui me mover, e assisti em câmera lenta eles rasgarem, como faço com papel, Speedy. Via apenas sangue em meio aos dentes daquele monstro, e pedaços de sua pele, marrons, misturados ao vermelho. Entrei em choque, e depois de um tempo, desabei em lágrimas. Vovó me disse para não ser inocente. E que são justamente essas coisas que quer evitar. E então algo aconteceu, diário. Ela apareceu. Lembra dela? Sim, aquela voz. Ela fica falando, e não se conteu ao dizer, através de mim: 'Não seria tão inocente se visse algo do mundo que não fosse pânico, que é o que habita essa casa.'
Arregalei os olhos, pois há tempo não via a voz. Tenho medo dela. Ela põe idéias insanas em minha cabeça. Idéias que vovó não chamaria de ingênua.
Querido Diário. Me desculpe pelas manchas em vinho. Sei que não vai bem com o rosa de sua capa. Mas como posso evitar, já que minha mão está tingida de vermelho?
Lamento por ter rasgado meu baby doll, gostava dele. Mas a voz mandou, então obedeci.
Fui obediente. Segui cada conselho da voz. Peguei a metralhadora, e visitei quarto por quarto. Pena que as paredes com revestimento acústico encobertaram os tiros, então cada quarto eram novos olhos surpresos me admirando no escuro. Ah, nota: Mamãe não é bonita por dentro, como papai costuma dizer. É nojenta, sangue não combinou com ela.
Lamento por ter rasgado meu baby doll, gostava dele. Mas a voz mandou, então obedeci.
Fui obediente. Segui cada conselho da voz. Peguei a metralhadora, e visitei quarto por quarto. Pena que as paredes com revestimento acústico encobertaram os tiros, então cada quarto eram novos olhos surpresos me admirando no escuro. Ah, nota: Mamãe não é bonita por dentro, como papai costuma dizer. É nojenta, sangue não combinou com ela.
Estava frio lá fora, mas não pude deixar de matar os outros monstros. Sim, diário, eliminei os monstros, assim como a voz mandou: 'Elimine os monstros que a prendem na jaula.' Ela gosta de ser sarcástica. Deixei ela me dominar. E foi bom. Não me senti ingênua.
Apenas, quem sabe talvez, perigosamente distraída.
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Nota: devido ao limite de linhas impostas, e restrição ao tema (diário), esse conto não ficou no modo ideal ao meu ver. Mas espero que tenham gostado, tentei abranger a idéia da falsa inocência, mesmo que em pouco espaço. Pude interpretar essa personalidade a partir do fato dela viver trancafiada em uma casa, e a reação dos pais após a flagar se masturbando: ela foi criada para ser assim. Apenas não contavam que ela não era, o que nos leva às suas indagações no texto de Gregório e ao final surpreendente.
Nota: devido ao limite de linhas impostas, e restrição ao tema (diário), esse conto não ficou no modo ideal ao meu ver. Mas espero que tenham gostado, tentei abranger a idéia da falsa inocência, mesmo que em pouco espaço. Pude interpretar essa personalidade a partir do fato dela viver trancafiada em uma casa, e a reação dos pais após a flagar se masturbando: ela foi criada para ser assim. Apenas não contavam que ela não era, o que nos leva às suas indagações no texto de Gregório e ao final surpreendente.
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