sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Wake

Quando a porta abriu, ninguém viu isso acontecendo. A maçaneta o atingiu no estômago antes que seu pé pudesse impedi-la. O deixando sem ar por um minuto. E espalhando dor. Ele se dobrou. Os amigos riram. Por que não? Era engraçado para eles, ele achava.
Mas seus olhos permaneceram nela enquanto ela saia do ginásio como um míssil na noite fria e escura, seguindo em direção da mesma rua que Cabe havia andando dezenas de vezes durante o ano, todas as vezes que ele perdia o ônibus.
Ela caminhava trôpega com os saltos altos como se nunca os tivesse usado antes. Era uma longa caminhada para casa, e nem um pouco agradável. Estava ficando frio e o quanto mais longe da escola, pior a vizinhança ficava. Assim que Cabel conseguiu respirar novamente, ele olhou para seu skate. Talvez agora fosse sua chance. Ele ajustou seu capuz, colocou a franja um pouco para dentro para conseguir enxergar. Acendeu outro cigarro lentamente, seus dedos tremiam um pouco.
- Você vai atrás dela? - Um dos caras, Jake, perguntou.
- Talvez. -Cabel falou friamente. Ele deu outra tragada e exalou lentamente, então esmagou o cigarro com o sapato e pegou o skate. – Sim.
- Eu vou também. Outro cara falou. – toque de recolher.
- Eu também. Outro falou.
Cabel respirou fundo e deu de ombros na escuridão. – Tanto faz.

Antes de poder mudar de idéia, ele colocou seu skate em baixo do braço e saiu.
Levou vários minutos para alcançá-la a pé, e por um curto tempo ele achou que a havia perdido. Ela já havia abandonado os saltos, mas a vizinhança ia se deteriorando rapidamente enquanto eles caminhavam para a parte ruim da cidade, onde ambos Cabel e Janie moravam.
Ele a viu ficar tensa quando os três se aproximaram. Os dois caras colocaram os skates no chão e ela parou. Cabel amaldiçoou baixinho. Ele não tinha a intenção de assustá-la.
- Nossa! - Ela falou. Por sorte o reconhecendo. – Isso, mate uma garota de susto, porque não? - Ela parecia irritada.
Cabel deu de ombros. Por fora frio, por dentro um caos. Seus órgãos se contorciam e doíam. O que diabos estou fazendo? Mas era tarde demais para desistir.
Ele tentou desesperadamente pensar em algo para falar. Os outros caras seguiram na frente, dando um pouco de distancia.
- Vai ser uma longa caminhada. Ele falou. Estremecendo pelo quanto idiota aquilo fora. – você, ih. A voz dele estava rouca. – Está bem?
- Ótima. - Ela falou procurando a palavra. – Você?
Ele engoliu em seco. Respirou fundo. Sem idéia do que fazer a seguir. Mas ele não conseguia vê-la caminhando de pés descalços. Ela já estava mancando.
- Suba. Ele falou e colocou o skate no chão. Pegou os sapatos das mãos dela. – Você vai deixar seus pés em retalhos. Há vidros e todo o tipo de porcarias.
Janie parou. Olhando para ele. E ele pode ver algo em seu rosto de menina valente. Vulnerabilidade ou algo parecido. Que fez o estômago dele se revirar.

- Eu não sei como. - Ela falou.
Ele sorriu então. Aliviado. Ela não havia falado para ele ir embora. Definitivamente um passo na direção certa.
– Apenas fique de pé. Se curve e mantenha o equilíbrio. Ele falou. – Vou empurrar você.
E depois de olhar para ele por um longo tempo, ela fez aquilo. Inacreditável. Ele colocou sua mão na parte de baixo das costas dela, esperando que estivesse tudo bem para ela, mas sem querer perguntar. Empurrando ela, e depois de algum tempo, ela descobriu como se manter em pé sem cair ou deixar o skate sair do caminho enquanto ele a empurrava através das ruas pobres de South Fieldridge.
Ele não havia se sentindo tão bem assim por muito tempo. E mesmo não conseguindo pensar em nada para falar, aquilo estava bem, eles estavam no escuro. Os dois ficaram em um estranho silencio. O calor das costas dela na mão dele na noite fria. O fato de ela ter confiado nele. De ela não estar com medo. De não ter saído correndo e gritando. Ela o havia deixado tocá-la, por Deus.
Incrível.
Ele mal notou quando os outros caras foram embora, seguindo para suas respectivas casas. Era tudo o que podia fazer para manter sua concentração em desviar das pedras e vidros.
Quando ele a empurrou pela entrada de carros da casa dela até os degraus, ele sabia que havia terminado. Pelo menos por enquanto. Mas era o suficiente no momento. Era esperança. Janie saiu do skate e abriu a porta de tela.

Ele colocou os sapatos dela no degrau, hesitando por um momento, então pegou seu skate e partiu sem falar nada. Com apenas um aceno. Um total perdedor.
Ele já estava na rua quando escutou. – Obrigado Cabel. A voz dela era fraca, suave no ar. – Isso foi muito meigo.
Aquilo era uma maldita musica, isso é que era. O bastante para fazer um cara ficar um pouco louco por dentro.
Cabel vinha pensando muito naquele dia ultimamente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário