quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Caçador de Mistérios (parte 4)

(Clique aqui para ler as partes 1, 2 e 3, clique aqui para ler a parte 5)

No caminho para a biblioteca, as ruas da cidade estavam cobertas pela neblina da manhã, e as casas emanavam o mesmo ar de mistério.
Helen caminhava ao meu lado em silêncio, segurando sua sombra para se proteger do sol invisível detrás das nuvens, olhando para o chão.
Havia uma certa estranheza entre nós, a estranheza comum de pessoas estranhas quando começam a se relacionar.
Ela quebrou a tensão ao falar, com delicadeza.
"E o que, exatamente, você estaria procurando na biblioteca?"
Eu respirei fundo, pois estava esperando por aquela pergunta. Com Helen, decidira ser mais sincero, pois sua ajuda viria a ser últil na busca. Mas não totalmente. Dei um sorriso de lado.
"Helen, desde pequeno, gosto de lendas e mistérios. Vamos dizer, que aventuras sempre foram uma paixão. E ontem, conhecidentemente, na taverna, eu ouvi boatos do taverneiro sobre uma certa lenda da região. Ainda com meu espírito de menino, me interessei e decidi procurar sua verdadeira história e seus detalhes."
Fiquei observando a reação de Helen. Por um instante, suas feições foram de decepção.
"Sim, eu sei o que você procura." Ela disse isso, e no final adicionou uma sombra de riso irônico.
"Praticamente cada hóspede que recebo quer saber sobre essa... lenda. Isso me aborrece, nós da cidade não gostamos de falar sobre isso. Eu não posso contá-la a você."
Ela assumiu um aspecto um pouco sobrio, e parou para olhar para mim.
"Quem a conta a um forasteiro, é atingido pela maldição."
Por um momento pensei que Helen estivesse zombando de mim. Porém, neste segundo, ouvi um raio vindo do céu, e gotas de chuva começaram a cair sobre nós. Analizei Helen. Ela me parecia séria, e ao ouvir o raio, temerosa. Olhou para cima, ajeitou a sombra sobre a cabeça, e apertou o passo, passando a minha frente. Andei mais rápido para acompanhá-la.
Em meio às casas iguais, vi uma no qual se lia uma placa: "Biblioteca". Paramos por um momento, alguns pingos iniciais atingindo meus ombros. Segui Helen e entrei, subindo os três degrais da entrada.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Às vezes,

as pessoas ao meu redor são egoístas demais para fingirem que se preocupam.

domingo, 10 de janeiro de 2010

The angel from my nightmare.

Dor. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça, ao acordar. Muita dor.
Era como se alguem tivesse aberto meu peito impieduosamente com uma faca cega, para então serrar meu ossos lentamente e depois arrancá-los fora, e então tirar meu coração feromente para fora de meu corpo, e amassá-lo no chão até se transformar numa massa vermelha e sangrenta.
Muita dor.
Eu acordara chorando, soluçando e tremendo. Ao me ver meu pai perguntou "O que foi?!", e ao perceber meu estado me tentou dar aquele remédio com gosto horrível.
E então, ao conseguir respirar por entre a dor, eu disse, lentamente "Foi um pesadelo, papai. O pior da minha vida. E agora está doendo".
E ele me abraçou. Mesmo assim a dor não passou.
Fora horrível. O pesadelo era antes um pensamento que eu tentava afugentar de todos os modos de minha cabeça "Bobagem, bobagem!..." Mas então, meu subconciente fez o favor de traze-lo a tona, da pior forma possível.
O pesadelo não era real, mas a dor era. Talvez tenha sido simplesmente pela idéia do pesadelo, pelo fato de as cenas terem sido tão vívidas, ou, pelo pior: o medo de que se tornasse real.
Por que nada podia ser pior do que aquilo.
Se apenas com um pesadelo, uma simples manifestação do meu subconciente, um simples pensamento, eu já estava daquele modo, imagine como seria se se tornasse real.
E agora cá estou eu, já com o peito e os ossos no lugar, mas com um coração faltando.
Um buraco no peito.
Tudo por causa do maior pesadelo da minha vida.
Não vou descrever meu pesadelo aqui. Seria horrivel, apenas abriria umas cicatrizes no peito.
Mas eu rezei para que a dor passasse.
E que o pesadelo, nunca se tornasse realidade, para que a dor verdadeira viesse à tona.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Alto Mar

O mar. Sempre gostei do mar. Sempre gostei de vir aqui, para me refugiar de casa e dos meus pais. Em cima da pedra, ficava olhando as ondas monótonas, no vai-e-vem, batendo contra as pedras violentamente...
Era crepúsculo, e o sol já se punha. No horizonte, ele desaparecia, se escondendo no mar. Perto dele, o céu era rosa, indo num degrade para o azul.
Fiquei assim observando o céu escurecer conforme passava as horas. Ele já estava num azul escuro bonito e cheio de estrelas, e a lua cheia refletia no mar, quando decidi que era hora de ir embora.
Respirei fundo, apoiei-me nas rochas e me levantei. Virei para sair.
Talvez se eu tivesse apenas ido embora, caminhando, essa história fosse diferente e mais calma.
Mas eu não fui embora. Eu olhei para trás. E foi aqui que eu o vi.
A primeira coisa que reparei no navio era que ele era muito grande, e que estava perto demais da costa.
Por entre a neblina, eu enxergava seus três mastros, com uma bandeira preta amarrada neles.
O casco de madeira rústica dava sustentação, e dentro dele algo me chamou a atenção.
Uma menina. Devia ter a minha idade, e daquela distância não conseguia enxergar direito suas feições. Sua pele era pálida refletida sob a lua, tinha cabelos escuros, e usava um vestido longo cor de vinho.
E ela acenava para mim.
Fiquei assustado, pois em sua volta no barco, não conseguia enxergar mais nada além de sombras. A menina se destacava no meu campo de visão.
Então, a neblina envolta do barco foi se tornando cada vez mais densa, até cobri-lo inteiramente, tornando invisível.
Minutos depois, a neblina se dissipou.
E, exatamente como eu pressentia, o navio havia sumido.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Os Primeiros Dias

"-Então, como é meu cheiro? - perguntou.
Inspirei lentamente, deixando que o perfume de Lace tomasse conta de mim. De algum modo, o cheiro familiar de jasmim alcamou o caos daquelas 24 horas. Percebi que poderiamos nos beijar novamente; fazer qualquer coisa que quiséssemos. Agora era seguro. Mesmo com os esporos do parasita no meu sangue e na minha saliva. Afinal, ela estava infectada, exatamente como eu.
- Borboletas - respondi, depois de pensar um pouco.
- Borboletas?
- Isso. Você usa um xampu com perfume de jasmim, não é isso? O cheiro é de borboletas.
- Espera aí. As borboletas tem cheiro? E é de jasmim?
Meu corpo continuava agitado por causa do beijo, minha cabeça ainda girava com as revelações daquele dia. Assim, havia algo de reconfortante em receber uma pergunta para a qual eu sabia a resposta. Deixei as maravilhas da biologia fluírem.
- É exatamente ao contrário. As flores imitam os insetos. Dão formas de asas às suas pétalas, roubam os cheiros. O jasmim leva as borboletas a pousarem em suas flores, para que carreguem o pólen. é assim que as flores de jasmim fazem sexo entre si.
-Caramba. O jasmin faz sexo? Usando borboletas?
-Sim. O que você acha?
-Ahn...- ela permaneceu em silêncio por um momento, ainda abraçada a mim, pensando em todas as flores que faziam sexo mediaso por borboletas. -Então, quando uma borboleta pousa no meu cabelo, ela acha que está fazendo sexo de jasmim com ele?
-Provavelmente.
Aproximei-me de sua cabeça, e deixei meu nariz se perder em seu perfume. Talvez o mundo natural não fosse tão incrivelmente terrível - aterrador, cruel, desprezível. às vezes, a natureza era doce, de verdade, tão delicada quanto uma borboleta confusa e excitada."