Era quase noite. O céu estava coberto por nuvens, e eu sentia o frescor que o ar tinha, aquele cheiro característico que só sentimos antes da chuva. Ele me fazia sentir a magia do mundo.
Fechei os olhos por alguns segundos, e dois riscos quentes de lágrima riscaram minha face. Eu estava com aquele aperto no coração, aquele que está bem entre emoção, felicidade e tristeza. Talvez um pouco nostálgico, talvez um pouco inexplicável. Lugares altos me faziam sentir assim.
Encostei na pedra fria que fazia a barreira entre mim e o mundo, aquela vista tão linda e distante. Sentia como se pudesse voar, e por isso fechei os olhos de novo, sentindo o vento como se eu fosse parte dele.
Ouço um tilintar, um dedilhar agudo e macio. Está longe, e é tão suave que de início penso ser o barulho da chuva. Olho ao redor, e do outro lado do mirante, observando a paisagem, havia um homem.
Tinha os cabelos negros, e se sentava em um banquete de madeira. Havia acendido duas velas, posicionadas em cima do muro de pedra, provavelmente pela pouca luz nesse anoitecer nublado. Em seu colo, um instrumento de cordas, que ele dedilhava tão misticamente, de olhos fechados, que nem parecia consciente. Parecia estar dormindo, e que seus movimentos eram apenas um reflexo de seu sonho.
Depois de admirar tal figura por alguns segundos, comecei a prestar atenção à melodia. Era tão conhecida, tão... familiar. E foi quando ele começou a cantar.
Sua voz macia e rouca, tão mágica, não foi o que mais me surpreendeu, mas sim o fato de eu saber as letras e palavras que viriam em seguida. Me aproximei mais, hipnotizada pela música, e comecei a cantar junto. Apenas não pude evitar.
Ele abriu os olhos âmbar lentamente, não surpreso pela minha presença ou pelo fato de eu conhecer a canção, mas sim para compartilhar. Compartilhar a música. A sensação que ela trazia. O sentimento, a mágica, o contágio. A lembrança, como se algo que tivesse passado à muito tempo atrás estivesse acontecendo de novo.
E assim permanecemos. Sob a luz das velas, cada vez mais necessárias pelo passar das horas. Entre o mundo, o horizonte, o vento, e o céu.
Céu este que se abria. Abria para mostrar uma linda lua e estrelas.
Mas o cheiro de chuva continuava lá.
Enquanto a música continuasse, a magia ficaria também.
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