Ultimamente uma certa frase vem se passando com freqüência de boca em boca ao meu redor, conseqüentemente registrada em minhas memórias, frase dita mais frequentemente do que se considera, devido à linguagem imprópria, porem presente na maioria dos dicionários de língua portuguesa: "Foda-se o que os outros pensam".
Sempre adorei tal lema - símbolo de pessoas fortes e maduras, estampado em suas testas e quem ganhando de brinde um gesto obsceno do dedo do meio, se vir a calhar, a demonstração de rebeldia perspicaz, e, sejamos sinceros, idiota.
Apesar de admirar tal coragem, - pelo menos daquele que realmente diz para dizer o significado, filosofando a sentença - nunca achei que fosse encaixar à mim mesma, pois sempre fui tão exposta e sensível à tediosa fragilidade adolescente (mais conhecida como Rainha do Drama) que sempre me importei, fultilmente (como não se espera mais do que isso ao se importar) com o pensamento alheio.
Mas cá estava eu hoje, hoje, passado certo tempo depois de todas as ocasiões com a frase em pauta, relaxando como sempre debaixo da chuva, deitada no portão de casa, de olhos fechados, estatelada, sentindo os pingos, quando passam alguns vizinhos.
Só ouço pelo barulho que atrapalha meu momento de meditação, mas talvez fosse apenas ignorá-los se não tivesse começado aquele comichão incansável que sentimos num ponto estratégico abaixo da orelha, quando sentimos que falam da gente.
Abro um olho, tomando cuidado para um pingo-filha-da-mãe não atingi-lo no exato segundo do meu ato, e me deparo com três mulheres e o policial que mora na casa ao lado, parados, embaixo de seus guardas chuvas cochichando e olhando pra mim. Praticamente gnomos ou oompa-loompas, da minha visão periférica inferior.
Ao perceberem meu olhar esgueiro, disfarçam e votam ao seu caminhar.
Sinto mais alguns pingos no rosto, e não ia deixar aquele momento próprio, rotineiro e essencial desfalecer-se por um bando de duendes que espiam os momentos de meditação na garagem alheia, ou no caso oportuno - seria a minha.
E pensei, "Sinceramente? Foda-se o que eles pensam."
Neste momento minha mente se desencadeia em uma série de momentos partilhados dessa mesma frase, me recordando a várias lembranças, ato que os franceses - com sua mania de nomeador e inventar palavras à tudo - nomearam de "Deja vú" (se não souber, procure se informar, essa é uma palavra de magia unica e imprescindível).
E me senti rebelde, idiota, e, de certa forma, liberta.
Continuei a meditar sob a chuva.
Adolescentes são tão previsíveis.
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