"Desse jeito, assim, você se equilibra! Não, assim não!"
Não consegui controlar minha risada enquanto, mais uma vez, segurava-a para evitar que ela caísse do skate, no qual tentava se equilibrar. "Você é muito desajeitada", eu disse, olhando para aquela criatura de olhos grandes, que sorria marotamente por entre meus braços.
"Ou você é um mau professor."
Soltei-a do abraço, mas ainda segurando sua mão, peguei o skate do chão. "Ou não."
"Ou não", disse ela, ainda olhando para o skate com um pouco de pesar, até teu sorriso maroto voltar repentinamene. "Mas tive uma ideia melhor."
Olhei-a curiosamente. Não sabia o que esperar. Com ela, eu nunca sabia.
*
"Você tem certeza disso? Vamos morrer!" eu olhava, e abaixo de mim, a ladeira gigantesca parecia ainda maior, tão perto do chão.
"Deus, parece de ser dramático. Apenas curta o vento passando pelos seus cabelos."
Ela estava sentada na ponta frontal de meu skate, e eu atrás dela, com minhas pernas ao seu redor. Ela travava o skate na beirada do declive, e nosso corpo lutava com o atrito de seus pés em relação ao solo para não ceder à gravidade e cairmos.
"E se morrermos", ela disse, "nossa juventude viverá pra sempre, pelo menos nesse ato."
Definitivamente, eu nunca sabia o que esperar dela.
A abracei mais forte. "Certo. Vamos lá."
Fechei os olhos.
Senti, então, que ela nos desprendia e colocava seus pés para cima. Percebi lentamente o skate deslizar, e em pouco tempo, estávamos descendo em alta velocidade.
Ela tinha razão. O vento passando por mim era incrível. Mas o mais impressionante foi sentir. Sentir absolutamente tudo. Sentir precisamente o corpo dela, quente junto ao meu. Sentir o skate balançar pelas pedras do asfalto. Sentir a gravidade puxando, finalmente, nossos corpos. Me sentir jovem. Me sentir vivo.
Sentir a vida passar, junto à paisagem das casas da ladeira, por nós.
E apenas nós continuarmos em movimento.
Depois de temos parados completamente, ela se levantou em um pulo, me fazendo cair pra trás pelo desiquilíbrio de peso no skate.
"Viu, estamos vivos."
Olhei para ela, acima de mim, enquanto estendia a mão em minha direção para me levantar. Deus, como era linda. Seu sorriso maroto ainda brincava em seu rosto e seus olhos cintilavam ao olhar pra mim. Eram seu dois diamantes. E, como a juventude, esses seus diamantes são para sempre.
Peguei sua mão e me levantei, a abraçando e chegando mais perto de teu rosto.
"Sim." Me aproximei ainda mais.
"Eu me sinto muito mais do que vivo."
domingo, 15 de abril de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Insomnia
Revirando na cama. Não há como me enganar: minha mente está à mil por hora, e meu corpo pede por movimento. A sensação de que há energia acumulada me supre completamente, e ficar parada me irrita. Meus músculos se contraem e há espasmos em minha perna. Tenho vontade de correr, de gritar. Me sinto acordada, desperta. Me sinto acesa.
São nessas horas que minha cama não parece aconchegante. O travesseiro é pedra e os lençóis àsperos. Se me cubro, é muito quente. Se os tiro é muito frio.
O desconforto predomina, e não aguento mais. Preciso sair, preciso despertar. Quero ir nas ruas pavimentadas de cinza, correr, olhar as luzes da cidade. A noite é uma criança. Foda-se os afazeres do dia seguinte. O dia sempre demora tanto a chegar...
Fecho os olhos em busca de tranquilidade mas ela não me atinge. Até meu sangue parece correr mais depressa. Meu coração bombeia mais rápido. Sem motivo algum, me sinto em chamas.
E é apenas mais uma noite. Uma noite entre mil. Todas iguais, com mesmos sonhos, mesmas ansiedades, mesmos momentos torturantes de inquietação.
Apenas mais uma noite de insônia.
São nessas horas que minha cama não parece aconchegante. O travesseiro é pedra e os lençóis àsperos. Se me cubro, é muito quente. Se os tiro é muito frio.
O desconforto predomina, e não aguento mais. Preciso sair, preciso despertar. Quero ir nas ruas pavimentadas de cinza, correr, olhar as luzes da cidade. A noite é uma criança. Foda-se os afazeres do dia seguinte. O dia sempre demora tanto a chegar...
Fecho os olhos em busca de tranquilidade mas ela não me atinge. Até meu sangue parece correr mais depressa. Meu coração bombeia mais rápido. Sem motivo algum, me sinto em chamas.
E é apenas mais uma noite. Uma noite entre mil. Todas iguais, com mesmos sonhos, mesmas ansiedades, mesmos momentos torturantes de inquietação.
Apenas mais uma noite de insônia.
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